No último sábado passei por mais uma experiência interessante (para não dizer alucinante palavra que de tanto uso pela minha amiga J. já lhe pertence) da minha existência. Para além de ter ficado a acreditar naquela coisa de que os erros das outras vidas se pagam nesta, sim, caso contrário ninguém deveria ser sujeito a uma coisa destas (já lá iremos). Ganhei a convicção plena de que esta coisa de se ser “bonzinho” tem os seus limites e que eu deveria utilizá-los com mais frequência e eficácia. Para resumir a história porque não desejo aos outros, ainda que por escrito, as coisas menos boas que me acontecem a mim, aqui vai...Fui convidada para ser testemunha de um casamento Americo-Polaco em Londres (pormenor, a viagem de minha casa, que fica no centro de Londres, ao dito local de comboio demora cerca de 1 hora). Não havia como recusar (primeiro erro). Não recusei (segundo erro). Fui (é melhor parar aqui com a história dos erros caso contrário nunca mais termino de contar esta história).
Lá apanhei o comboio em Cannon Street e lá fui eu para o que mais parecia ser o outro lado da ilha. Chego a casa dos noivos, ela Polaca e ele Americano com ascendência Polaca (penso que o bisavô). A noiva estava vestida de branco sujo e sapatos vermelhos, a fazer lembrar a bandeira Polaca (pensei, levaste esta coisa do nacionalismo um bocadinho ao extremo mas enfim, é o teu dia). O noivo apresentava-se de fato preto e gravata a condizer com os sapatos da noiva (pensei, afinal não é nacionalismo, é mesmo um “bocadinho” de mau gosto. Na casa encontravam-se também os pais da noiva, chegados da Polónia e que claro, não falavam uma palavra de Inglês nem de, espante-se, Português. Portanto, passei o dia (sim, o dia, já lá iremos) a intercalar o encolher dos ombros com os sorrisos que ainda conseguia ir fazendo. Não partimos logo para o registo civil porque ainda faltava a outra testemunha da “ocorrência”, o primo da noiva. Pensei, humm, primo Polaco da noiva, Professor de Filosofia e de Matemática na Universidade de Londres, finalmente alguém com quem poderei ter “alguma” coisa que conversar. O Tadeus chegou por fim...antes de me cumprimentar de beijo na mão, ainda teve tempo de dizer em inglês que a mulher, Japonesa, se tinha sentido mal com uma “diarrhoea” e que por isso não tinha podido vir. Nesse momento percebi que o meu dia só podia piorar e de forma dástrica. Eu e o Tadeus, falávamos linguagens completamente diferentes, não verbais mas mentais. As respostas que ele dava às minhas perguntas de “conversa de circunstância” (e que circunstância) não correspondiam ao que era perguntado. E a mesma desilusão também era visível no seu rosto quando eu lhe respondia ao que me perguntava. Uma clara, e imagino que incontornável, falha de comunicação.
A noiva lá reaparece e diz “Estamos todos, podemos seguir para o registo”. Momento em que pensei que era especial pois os restantes convidados iriam ter ao local do registo e não a casa dos noivos. Várias surpresas ainda estavam para acontecer.
Saímos de casa dos noivos e começámos a caminhar todos juntos, eu, a outra testemunha, a noiva, o noivo e os pais da noiva (falta um pormenor, se o Papa João Paulo II não tivesse já morrido eu juraria a pés juntos que era o pai da noiva, iguais). Seguiamos nós o nosso caminho quando eu penso, mas para onde é que estas alminhas chamaram o taxi?
Surpresa, o taxi era vermelhinho e tinha dois andares, pois é, fomos de “bus” até ao dito registo. 20 minutinhos aos solavancos por caminhos nunca por mim antes nagevados e com o Tadues sentado à minha frente a falar de uma queimadura de 3º grau que apanhou no nariz quando escalou os pirinéus (o local mais perto de Portugal onde alguma vez esteve na vida). Neste momento eu própria já me autoflagelava por não me ter atacado a mesma espécie de “indisposição” da Japa ou será que ela é que era a mais inteligente no meio disto tudo e uma boa mentirinha nunca fez mal a ninguém?
Conspirações de lado e vamos ao que interessa. Só faltavam 20 minutinhos para encontrar outros convivas com os quais pudesse festejar tão importante dia. Chegámos ao registo 1 hora antes do previsto e os outros convivas nem vê-los, não foram sequer convidados. A surpresa não foi só minha, a própria Judy (senhora do registo que celebrou o casamento) quando nos viu a entrar na sala com capacidade para, diria eu, cerca de 300 pessoas, espreitou para o corredor e perguntou de forma espontânea, então e o resto da “party”? Digo eu agora, Judy, não percebes, a “party” somos (só) nós. Logo lhe passou a surpresa quando o Tadeus se lançou também a ela com uma beijoca na mão. A sorte dele é que o salto que a Judy deu foi para trás, caso tivesse sido para a frente acho que teria sido para o agredir e desta feita o narizinho ficado vermelhinho mas por outros motivos (eu não percebo como é que ainda há pessoas que vivem em Londres e convivem com Ingleses e não percebem que os Ingleses, quando sóbrios, odeiam contacto físico).
Os noivos percorreram o corredor que atravessava o salão recheadinho não de pessoas mas de cadeiras douradas forradas a azul ao som da marcha nupcial (cd trazido pela noiva) e lá chegaram à mesa do registo, onde estava o restante “grupo” (e que grupo, onde eu me incluia, ainda não tinha fugido apesar de o ter pensado e mentalmente visualizado várias vezes nesse dia). Casaram-se! (ufa). Não pudemos sair sem que antes o filme da entrada se repetisse mas desta vez em sentido inverso, os noivos lá percorreram, uma vez mais, o corredor do salão das cadeiras azuis e douradas em direcção à porta de saída.
Um “bus” e um comboio depois, estavamos no centro de Londres. O nosso destino era agora o restaurante Clos Maggiorie em Covent Garden (restaurante muito bem recomendado). Um pormenor, eram 2 e meia da tarde e o jantar, estava marcado para as 17.30 havia 3 horinhas, e que horinhas, pelo meio. Entrámos num café e ali ficamos sentados até perto das 17.30. Os empregados do dito café eram (quase) todos polacos o que originou logo ali “outra” festa, tão grande que por momentos me fez acreditar que eles iriam ser convidados de última hora para o jantar que se aproximava. Como falaram quase sempre em Polaco eu consegui levitar pensamentos e sair, ainda que mentalmente, daquele “filme”.
Lá fomos para o restaurante, mais empregados Polacos que vinham à mesa e já nem se davam ao cuidado de “traduzir” as recomendações do Chefe para Inglês, o que fez com que o meu pedido tivesse sido feito um pouco ao acaso. À terceira vez que um dos empregados polacos se dirige à mesa em Polaco eu não resisti e perguntei, não há por aí nenhum Português? A minha mesa sem dar hipótese de resposta, riu à gargalhada e o Tadeus, que uma vez mais ficou sentadinho à minha frente, “brincou”, “vê-se mesmo que não conheces a grandiosidade da “rede” Polaca” arrematou ainda dizendo “Estamos em toda a parte”. A mesa deu uma gargalhada geral e o momento foi devidamente traduzido para Polaco para pai e mãe da noiva. E eu, de forma simpática (e o esforço que fiz para ser “simpática” naquele momento) ri-me com um som que tentava imitar uma gargalhada.
Já quase no fim do jantar aparece um empregado que não era Polaco (Thank God!) a quem eu delicadamente volto a colocar a questão não respondida de há pouco, “Não há por aí nenhum Português?” Ao que ele responde para espanto da mesa e meu próprio, há, o CHEFE Nelson. Virei-me para a mesa e disse “and this, my friends, is the Portuguese Network, we are the quality and not the quantity.” Aqui o riso forçado foi claramente o deles, mas eu não quero saber.
Não imagina o Chefe Nelson (claro que não me atrevi a dizer que este nome é muito feio) que me ofereceu o dia e não imaginava eu que ainda iria levar outra beijoca na mão na despedida do Tadeus. Ficou a promessa (O Rui Veloso que me perdoe mas ainda não decidi se a vou cumprir) de ir ao casamento religioso na Polónia.
3 comments:
Primeiro ouvi, agora li. E volto a rir-me tanto, tanto. Não vais não que eu não deixo...
uma bela oportunidade de conheceres a polónia, não? ainda por cima com o afã de seres A Testemunha? eles serão todos os polacos a curvarem-se perante tamanha individualidade, assoberbados pelo enlevo e status que tal figura representa, nada mais poderão fazer do que prestar honra, baixando-se e pedindo, com humildade, a alva e parcimoniosa mão da compatriota do Chef Nelson para a inocentemente beijar...
haviam de me apanhar a mim noutra.
e vai em 3 commments! yuhuuuuuuu!
Becas
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