Friday 6 June 2008

Nobre povo, nobre língua

Li outro dia no jornal inglês “The independent” um artigo sobre o já muito famoso “acordo ortográfico”. Na altura, não gostei do que li mas para não me “irritar” (os nervos só nos tiram a beleza, dão-nos rugas e pintam-nos os cabelos de branco), deixei o assunto morrer e (quase) esqueci. Agora, ao ler a edição de Junho da revista Courrier Internacional (a qual recomendo) volto a encontrar o mesmo artigo mas desta vez traduzido para Português (de Portugal). O título incomoda mas lê-se, “Lisboa verga-se à supremacia de Brasília”. Seguindo para o primeiro parágrafo é claro o atentado à inteligência dos próprios portugueses (de Portugal e não só), “Portugal poderá ter de reconhecer o inevitável, vergando-se à primazia económica e cultural do Brasil, da sua ex-colónia.” Gostava de perceber como é que se afere, por exemplo, esta supremacia cultural, mas acho que prefiro não ir por aí.

Neste artigo, os opositores ao acordo ortográfico são tidos por tomar “acções de retaguarda” e o exemplo dado é o de Vasco Graça Moura. Para o efeito, é citada uma frase com 9 palavras (sim, contei) alegadamente dita pelo mesmo, “Não precisamos de aceitar um lugar atrás do Brasil”. O artigo fica por aqui quanto a citações ou argumentos utilizados pelos “opositores” ao dito acordo, no mínimo diria que foi elucidativo e esclarecedor...

Do outro lado da “barricada” foi citado José Saramago. O artigo lembrou e nós “agradecemos” que este escritor, para além de ser o único português a receber o Nobel da Literatura, defendeu, em tempos, que Portugal passasse a fazer parte de Espanha. Saramago terá afirmado que “Temos de nos libertar desta ideia de que somos donos da língua. A língua é propriedade daqueles que a falam, para o bem e para o mal”. Desculpe Sr. Saramago mas verdades de La Palice não são suficientes para resolver a questão da “compropriedade” de 230 milhões de “falantes” de português.

Para resumir, o dito artigo aponta como principal razão para a referida alteração (vão ser alteradas cerca de 2 mil palavras das 110 mil que compõem o vocabulário português) a evolução económica, afirmando que “Portugal vai ter que se adaptar à evolução do mundo que fala Português”.

O artigo aponta as “pesquisas mais fáceis na internet” como uma das vantagens resultantes do acordo. Eu, estarrecida e totalmente convencida, digo UHAUUU!!!

Aproveitei este artigo, de qualidade no mínimo duvidosa, para expressar, ainda que ironicamente, a minha opinião sobre o acordo ortográfico.

“Amo de Paixão” o português do Brasil mas pelo “Amor da Santa” (como diria o me irmão H.) não obriguem a minha avó, os meus filhos ou mesmo eu própria a falar como o Lula da Silva. “Cada macaco no seu galho” e eu estou muito bem no meu. A economia não é tudo (eu arriscaria mesmo dizer que não é nada). Quero falar, escrever e ler o português de Portugal, o português de Camões!

Para concluir, importa ainda acrescentar uma informação de importância extrema, o artigo a que me refiro foi escrito por uma “Sra.” de nacionalidade Espanhola, só podia. Ai estes Espanhóis...

2 comments:

Anonymous said...

também há a desculpa que o mercado editorial vai ter um grande impulso. eu cá sempre li livros em português do brasil e nunca tive dificuldade, fossem os livros mais baratos e o impulso seria muito maior. a nível económico também é engraçado que a única forma que até agora encontrei de ter acesso às alterações que são previstas no novo acordo é comprares um livro. livro esse que, obviamente, se chama 'o atual acordo ortográfico'.

digo antes não às rugas. o acordo será só uma convenção que acabará por passar despercebida, assim espero.

m.

Anonymous said...

Show de bola esse post, galera! Beleza mesmo!
:-)
Ass: Becas (1/8 brasileira)